domingo, 18 de maio de 2014

Desabafo de um pós-aula

          Não sei se comento no meu perfil e agora estou com preguiça de conferir, mas sou professora da Rede Pública do Estado de São Paulo. Escrevo isso pra explicar que esse texto foi escrito depois de sair indignada de uma sala de aula e não ter com quem desabafar minhas impressões. tinha uma aula vaga escrevi num caderno velho que carrego na bolsa, tudo o que me afligia naquele momento (o velho hábito da penseira). Transcrevo abaixo esse texto:
          É vergonhosa a situação do professor brasileiro, ou pelo menos do professor paulista, categoria à qual pertenço há alguns anos: não há dúvidas que nos dias de hoje, ser educador engoba várias competências; há um "quê" de psicólogo, ou assistente social, somos amigos,pais, mães ou irmãos mais velhos como no meu caso, pois não tenho idade pra ser mãe desses marmanjos, e por aí vai... não podemos fugir de situações que exijam nossa capacidade de adaptação e jogo de cintura, mas o que me desespera é que além desses papéis já citados, acabamos assumindo funções absurdas: babá, porteira e a pior de todas é a de brigadista! Sim.. bombeira, apagadora de incêndio!
          Passar o tempo inteiro, apartando briga, acalmando ânimos, sossegando instintos sem parar é exaustivo, humilhante e principalmente frustrante. A sensação de "não estou aqui pra isso" sobe a toda aula aos níveis mais inacreditáveis e já está arraigada em nós, professores, feito a dor que a gente sente quando leva um soco no estômago! Pior que isso só mesmo a sensação de abandono, de impotência e de inutilidade que vez ou outra nos tira o sono, a fome, a paz e (quem diria!) até o apetite sexual! rs (rindo pra não chorar).
          Tenho pensado muito à respeito dessa nossa condição precária, posto que tenho visto bons professores, colegas que só "agregam valor" á profissão, abandonando seus aventais e desistindo de educar, de ensinar e colaborar com uma educação digna e justa. Não os culpo: o desejo de sair correndo da sala de aula, as vezes fica tilintando aqui nos meus botões também; o que me segura nesses momentos, não sou hipócrita de negar, é pensar sim que não vou e não posso abandonar meus alunos, que muitos me veem como apoio e exemplo ao mesmo tempo, mas também porque penso intensamente naquele velho e conhecido: "vocês vão ter que me engolir"... frase que em pensamento sempre repito aos Senhores governadores, secretários, gestores e outros "ores" que tentam transformar minha vida docente em um verdadeiro Tártaro.
          Não abandono a profissão, entre outras coisas pra também não abandonar a chance de ser a pedra no sapato de muitos e a oportunidade de transformar a "massa" na qual meus alunos se incluem, em mais pedras, na esperança que os donos dos sapatos tropecem e finalmente caiam.
         Bom... a aula vaga acabou. Vou de novo pra aula garimpar britas no meio de torrões de argila...

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